Em
vários artigos tratamos sobre o desmonte nas prefeituras do Ceará, onde o
prefeito anterior não se reelegeu ou não elegeu seu sucessor. Um destaque feito
foi quanto ao fato de que o desmonte não corresponde apenas à dilapidação do
patrimônio público, sucateamento da estrutura administrativa, enfim, mas também
ocorre nas práticas que resvalam na diminuição da capacidade da oferta do
serviço público via demissões, serviços que não funcionam, por exemplo. E nisto
também se inclui as manobras e artimanhas com os recursos financeiros, para
falar o mínimo, que acarretam dentre outras coisas, o atraso salarial. E atraso
salarial é uma coisa que não apenas conhecemos como sentimos efetivamente em
Itapipoca e em Uruburetama, quanto ao salário de dezembro de 2012.
Houve
sim, desmonte em nosso município.
O
atraso no pagamento do salário de dezembro é apenas um exemplo. Precisa ser
citada também a retenção das contribuições previdenciárias para o Itaprev e para
o INSS. Para o Itaprev, o último repasse registrado, dados de 24/01/2013, foi
realizado em junho de 2012 e somou R$ 970.093,98 (R$ 571.235,64 da parte
patronal e R$ 398.858,34 dos servidores). Se tomarmos esse repasse como média
mensal e considerarmos os meses de julho a dezembro e o 13º de 2012,
concluiremos que a prefeitura de Itapipoca deixou de repassar R$ 6.790.657,86
ao Itaprev. Isto mesmo. Veja a vulnerabilidade do regime.
Como
fica o pagamento desse valor?
A
prefeitura é a devedora e terá de pagar. E para tanto, pagará de forma
parcelada, o que impactará, de alguma forma, o montante de recursos disponíveis
para investimento, e também para reajuste dos servidores.
Quanto
ao INSS a mesma coisa se repete: há dívidas, as quais serão pagas
parceladamente. A diferença do INSS em relação ao Itaprev é que o INSS retém
recursos diretos do FPM para abater dívidas da prefeitura. Por exemplo, em
dezembro de 2012 foram retidos R$ 737.848,46; em janeiro de 2013 já
foram R$ 655.410,13. Poder-se-ia perguntar por que o Itaprev não atuou
para, a tempo, cobrar a dívida? Como se sabe, apesar de uma autarquia, o
Itaprev era gerido segundo os interesses do prefeito. Não convinha cobrar a
dívida e ela cresceu. Então, quando foi afirmado que o regime próprio tinha um
saldo de trinta milhões, a obrigação deveria ser o anúncio de um saldo de
quarenta milhões.
Qual
a situação do servidor neste cenário?
Salarialmente,
atraso de dezembro de 2012. A situação não está mais crítica porque houve a
antecipação do pagamento de janeiro de 2013, o que é um aspecto importante a
destacar. No entanto, é preciso destacar também que grande parcela dos
servidores esta duplamente penalizada. Primeiro, pelo atraso do pagamento (que
alcançou a todos) e desorganizou as contas, o que fez muita gente atrasar
pagamentos de cartões de crédito, incorrendo em juros elevados, bem como recorrer
ao cheque especial, com juros asfixiantes. O segundo aspecto ficou por conta da
retirada da gratificação atribuída segundo o artigo 61, do Estatuto dos
Servidores, provocando uma redução na remuneração de 12%, 20% e, em alguns casos,
de 40%. Embora essa retirada tenha ocorrida em anos anteriores, o que não se justifica,
sua retirada após um mês sem salário, combinado com as dívidas normais de
início de ano foi pesada demais. É clara a situação dramática em que as contas
da prefeitura foram deixadas, e a nova gestão não é a culpada, é evidente. Isto
todos compreendem, no entanto, não dá para agüentar o arrocho salarial. Foi
pesada demais.
Importante
o pagamento do salário mínimo de R$ 678,00 nesta folha de janeiro, o que
diminuiu um pouquinho o peso da retirada da gratificação. No entanto é preciso
urgência na sua recondução ao salário do servidor, mediante critérios, sim, mas
seu retorno já na folha de fevereiro. Como dito, entendemos a situação da
prefeitura, os esforços empreendidos, mas é preciso corrigir, de imediato, as
perdas em decorrência a retirada da gratificação.
Quanto
ao desmonte que gerou essa situação, é preciso responsabilizar a quem deve.
Tratado esse assunto com Dr. Pedro Cavalcante, no atendimento realizado hoje,
dia 24, seu entendimento é o de que o Tribunal de Contas dos Municípios – TCM tem
que abrir uma tomada de contas especial da gestão anterior. Enquanto sindicato dos servidores, cobramos a
tomada de uma posição da prefeitura no sentido de responsabilizar o gestor
anterior, com acionamento do TCM. Não se trata de retaliação ou coisa do
gênero, mas é preciso tomar medidas que resguardem o ordenamento jurídico: os
atos que produziram prejuízos não podem ser simplesmente perdoados.
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